domingo, 6 de julho de 2008

Crítica de cinema: "Death Defying Acts", 2007

Uma ida ao cinema - “Death Defying Acts” (2007), de Gillian Anderson com Guy Pearce, Catherine Zeta-Jones, Saoirse Ronan, Timothy Spall

No meio de tantos filmes de Verão – “Hulk”, “The Happening”, “Speed Racer” - é refrescante encontrar uma alternativa nos cinemas para quem não é fã das famosas escolhas de férias, repletas de super-heróis, monstros e explosões. Dito isto, “Death Defying Acts” não é um filme espectacular, mas oferece ao espectador uma boa dose de escapismo romântico estilizado, perfeito para um encontro ou para um futuro aluguer numa noite calma.

“Death Defying Acts” passa-se em 1926 e conta a história do famoso mágico Harry Houdini - célebre escapologista e mestre em se livrar de cordas, correntes e todo o tipo de amarras em ambientes hostis como tanques de água, entre outros - eterno céptico das chamadas “manifestações sobrenaturais”, especialmente do que toca ao espiritismo e aos contactos com o Além, na sua busca de um médium que consiga pô-lo em contacto com a amada mãe, oferecendo um prémio de dez mil dólares a quem efectivamente realizar este feito debaixo de escrupulosa observação científica. Tal busca leva-o a Edimburgo, cidade natal de uma médium de feira, Mary McGarvie (Catherine Zeta-Jones) e da sua inventosa filha Benji (Saoirse Ronan). Mary e Benji têm um número de adivinhação que envolve Benji recolhendo informações discretamente entre os membros da audiência que Mary pode usar para fingir que contacta os seus entes amados já falecidos e assim lutam para assegurar uma pobre vivência, vivendo numa humilde casinha no cemitério até que descobrem do desafio e da chegada de Houdini e rapidamente Mary engendra o plano do costume, numa tentativa de descobrir quais as últimas palavras proferidas pela falecida mãe do mágico e assim ganhar os dez mil dólares prometidos. O carismático Houdini rapidamente se apaixona pela feroz Mary e esta, no final, terá de escolher entre seguir com o seu plano e conseguir o dinheiro que tanto precisa ou deixar-se levar por Houdini e abandonar a falcatrua.

Como já disse, “Death Defying Acts” não é um filme espectacular: não sendo material de Óscar nem filme que se discuta em profundidade, nem mesmo o que se poderia chamar de uma “biopic” (uma biografia cinematográfica), portanto analisar a profundidade dos personagens que se baseiam em pessoas reais é um tanto absurdo, conta porém com excelentes participações, de salientar a jovem Saoirse Ronan, que alguns poderão reconhecer do aclamado “Expiação”, como a matreira Benji, uma rapariga sonhadora e imaginativa, como é típico das meninas da sua idade, mas igualmente esperta e sagaz, que aprendeu a jogar com as cartas que a vida lhe dá para a melhor aproveitar – de facto, se a princípio nos deixamos levar pela noção que Benji é a ingénua fascinada por Houdini e a sua mãe Mary a prática e gélida artista do embuste, no fim vemos que Benji sabe o que a casa gasta e, em certas ocasiões, é ela que toma conta da mãe. A forma como ela encontra um aliado inesperado no ultra-protector manager de Houdini, Mr. Sugarman (Timothy Stall), um homem com o qual nada a pequena tem em comum e com quem muitas vezes colide, é bastante engraçada. A fotografia também é muito bonita, emprestando ao filme uma qualidade estética bastante agradável. O desenrolar da história… dado que nos é apresentado um fim de interpretação aberta, temos a liberdade para escolhermos nós o caminho que nos parece que melhor encaixa na narrativa, abrindo assim a oportunidade de agradar tanto aos espectadores mais realistas como aos mais esotéricos: mesmo assim, é minha opinião que a cineasta se deixou levar pelo romance entre Houdini e Mary e negligenciou, de certa forma, o ângulo do embuste que mãe e filha estavam a tentar perpetrar sobre o mágico. Gostaria de ter visto um maior foco no método de impostura de Mary, talvez uns quantos mais transes psíquicos fingidos, bastante mais pesquisa e inquérito dissimulado – como aquele feito na amostra do trabalho das McGarvies para o seu número de adivinhação, cedo no filme –, um maior desenvolvimento na relação de Houdini e Mary, em vez da rendição quase que súbita daquela que era, aparentemente, uma feroz e decidida intrujeira aos charmes do ilusionista. Graças ao que é sagrado que a pequena Benji tomou as coisas nas suas mãos e não transformou o filme num romance de cordel, se bem que a sua pequena participação não chegou para ajudar o filme a atingir o seu completo potencial.

Embora só tenha chegado este ano ao público português, “Death Defying Acts” anda por aí desde o ano passado e foi tido como “o próximo ‘Prestige’”, o famoso filme sobre ilusionismo no século XIX com Hugh Jackman que eu considerei “um prazer culposo”. Embora sejam os dois filmes de época (contudo de épocas diferentes) sobre o ilusionismo no mundo do espectáculo (embora “Death Defying Acts” o trate mais como pano de fundo enquanto “Prestige” se centra exactamente neste tema) não direi que “Death Defying Acts” seja tão atraente como “Prestige”, mesmo que o primeiro não tenha algumas das falhas estruturais do segundo e seja, em tudo, mais realista – talvez seja por isso que o filme passa tão despercebido, aparte da sua calendarização. Penso que seja por causa do teor essencialmente romântico do filme – sim, porque é, no fundo, uma história de amor – que, talvez por razões de gosto pessoal – para mim não batem um bom drama/thriller passado nos “roaring twenties”. No entanto, se tiverem uns trocos e vontade de ir ao cinema para ver algo que não o Hulk a rebentar carros no meio das ruas da cidade, “Death Defying Acts” deverá ser certamente uma opção viável.

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