Para quem o Desporto é uma Religião

sábado, 19 de julho de 2008

Crítica de cinema - Eduardo Mãos-de-Tesoura (1990)

Uma visitinha ao clube de vídeo…

“Eduardo Mãos-de-Tesoura” (Edward Scissorhands - 1990), de Tim Burton, com Johnny Depp, Winona Ryder, Diane Wiest, Vincent Price

Quem me conhece sabe que sou fã acérrima da visão gótico-naïve do excêntrico Tim Burton; sendo um dos meus realizadores preferidos, é minha opinião que o brilhantismo da obra de Burton se suporta no facto de que ele, manifestamente, adora cinema e o seu trabalho – requisito fundamental para qualquer bom cineasta – e de que ele compreende a mente das crianças de forma que companhias de filmes infantis como Disney inveja. Tal como outro cineasta meu favorito, Hayao Mizayaki (Princess Mononoke, Spirited Away), Tim Burton não patroniza o seu jovem público nem sente necessidade de simplificar, embelezar, adocicar o material que lhes apresenta – não julga as crianças estúpidas e incapazes de prestar atenção a nada que seja menos brilhante e adorável. Pelo contrário, ele entende que as crianças são seres de tal complexidade psicológica que se tornam radicalmente diferentes dos adultos, absorvendo o mundo – e os filmes – de maneira diferente dos adultos. A imaginação, a permeabilidade, a amplitude psicológica de aceitação e processamento da realidade de uma criança nada têm a ver com a de um adulto – nada têm a ver, sequer, com a ideia mental que os adultos que fazem filmes para crianças fazem delas, e Burton trabalha baseado nesse princípio, produzindo narrativas de base simples mas tão ricas em elementos criativos que apelam ao mais profundo ser dos mais pequenos que chega até a ser assustador. Será um pouco negro, aqui e ali? Mas claro! Não são as crianças, do fundo da sua inocência – da sua incapacidade de separar o bem do mal, ou na sua diferente concepção que têm destes dois termos – as pessoas mais negras que por aí há? Quem esmaga bichinhos indefesos só para ver o que acontece? Quem ri das pessoas que caem ou que se magoam? Quem é brutalmente honesto e por vezes, mais que inconveniente? É a “falar por baixo” para as crianças, com filmes com animais enternecedores e lições de moral produzidas em série que outros cineastas produzem filmes reluzentes o suficiente para atrair a atenção dos mais pequenos mas que rapidamente se dissiparão na sua memória. Burton fala para a criança interior em todos nós na sua forma mais crua, mais humana, mais real, daí as suas “trips” de excentricidade serem tão relacionáveis.

Diz muito do trabalho de Tim Burton o facto que muitas das suas personagens e muitos dos conceitos que mais tarde originaram os seus filmes nasceram de rabiscos, desenhos que ele próprio fez nas margens do caderno quando era jovem. Este é o caso de Edward, o protagonista deste filme, um homem excepcionalmente gentil que tem longos dedos de lâminas afiadas de tesoura no lugar das mãos.

Edward (Johnny Depp) era a criação do Inventor, desempenhado por Vincent Price, um dos ídolos de Burton (sendo este o último filme de Price antes de morrer), construído a partir da adaptação de várias máquinas e com um coração feito de um biscoito em forma de coração, adquiriu humanidade, sentimentos, vida devido à devoção do Inventor, que tinha em Edward a única companhia no Mundo. No entanto, o Inventor morreu subitamente, antes de ter tempo de completar Edward, deixando-o sem mãos humanas, com grotescas próteses feitas de tesoura no seu lugar. Edward viveu sozinho no isolado castelo em ruínas do Inventor durante muito tempo, até que foi descoberto por uma bondosa vendedora de maquilhagem porta-a-porta, Peg (Diane Wiest) que se compadece dele e o leva a viver com a sua família, nuns subúrbios americanos paradigmáticos, completos com casinhas de várias cores e vizinhas bisbilhoteiras. O peculiar, mas extremamente dócil Edward rapidamente se torna na sensação do bairro e, devido aos seus dotes manuais, o jardineiro, cabeleireiro e estilista de cães mais popular da cidade.

“Eduardo Mãos de Tesoura”, tido como o “conto de fadas gótico” de Burton é o filme que colocou o jovem realizador no mapa (embora excelentes trabalhos como “Beetlejuice”), bem como aquele que abriu os olhos do mundo do cinema para o potencial interminável da ex-estrela da série adolescente “21 Jump Street”, Johnny Depp. Depp e Burton já perderam a conta dos filmes nos quais colaboraram, e com boa razão: a junção dinâmica do universo caleidoscópico de Burton e da tridimensionalidade e sombreado que Depp empresta aos personagens que doutra forma seriam simplesmente bidimensionais (ahem, “Piratas das Caraíbas”) é uma das mais mágicas fórmulas do cinema actual e esperemos que se mantenha firme nos anos que vêm. O Edward de Depp é um ser acostumado às sombras mas que demonstra uma tal vontade de se integrar, de ser amado, que nem todas as suas diferenças e excentricidades deixam de fazer o espectador relacionar-se com ele. Mesmo quando o conto de fadas acaba e o filme apropria-se de um tom de crítica social ao tratamento da diferença e (não leiam mais se querem ser surpreendidos!) Edward é obrigado a refugiar-se de novo no seu castelo sombrio, ele não se sente rancoroso mas grato com o facto de que, mesmo por um curto período de tempos, foi aceite e fez amigos. É especialmente interessante observar a evolução das reacções de Edward aos acontecimentos: é dócil e fascinado, passa a dócil mas levemente mecanizado (como evidenciado pela sua resposta serializada a toda a gente que lhe propõe “apresentar um médico” para tratar das suas mãos), depois a apaixonado cego, confuso e furioso, assustado mas resignado e, no fim, é simplesmente Edward, um personagem excepcional que marcou a história do cinema em si só, embora estivesse rodeado de um dos melhores imaginários que há na indústria do presente e de actuações secundárias de alto nível, com destaque para o falecido Vincent Price, Winona Ryder, outra veterana de Burton, Diane Wiest, Kathy Baker como a luxuriosa vizinha que está de olho em Edward durante todo o filme (é interessante ver que, embora – tenha iniciado a campanha contra Edward porque este recusara os seus avanços, a emoção nos seus olhos quando pensa que Edward morreu é genuína e forte) e Alan Alda, recentemente Óscar de Melhor Actor Secundário, que está de morte neste filme como o pacato marido de Peg.

Com a entrada de Winona Ryder na cena a meio do filme, este passa da excêntrica comédia de um rapaz fora do normal a adaptar-se, à sua maneira, ao mundo “apple pie” no qual caiu de pára-quedas ao choque quase que sucessivo de Edward contra paredes quando a natureza humana daqueles que, a princípio, tão bem o receberam, se revela finalmente nas suas acções mutáveis aquanto a sua diferença e acaba numa nota altamente emocional – afinal, não é este filme um conto de fadas? – que pode não agradar a alguns mas que decerto deixará uma lágrima ao canto do olho dos mais sensíveis. “Edward Scissorhands” é, portanto, uma comédia negro-naïve acerca da diferença, do que é anormal e do que é aceitável e como as duas noções podem diferir dependendo de onde se observa – no final, o espectador é convidado a acreditar que a normalidade cinzenta do bairro de Peg é a verdadeira força aberrante e o rapaz criado em laboratório, crescido na solidão de um castelo em ruínas, tendo lâminas por mãos, a normalidade – com uma carga emocional muito grande, um filme que pode ser igualmente apreciado pelo método de narração da história como pela mensagem que acarreta. Alguns críticos podem dizer que Burton não tinha, nesta fase da sua vida e da sua carreira, a experiência ou a habilidade necessária para levar esta história única poderosa a tão bom porto como deveria, mas o Tomatometer (do site RottenTomatoes.com, um agregador de críticas de cinema) não mente: com esmagadora maioria este filme é recomendado e, como tantos outros, também eu o recomendo.

domingo, 6 de julho de 2008

Crítica de cinema: "Death Defying Acts", 2007

Uma ida ao cinema - “Death Defying Acts” (2007), de Gillian Anderson com Guy Pearce, Catherine Zeta-Jones, Saoirse Ronan, Timothy Spall

No meio de tantos filmes de Verão – “Hulk”, “The Happening”, “Speed Racer” - é refrescante encontrar uma alternativa nos cinemas para quem não é fã das famosas escolhas de férias, repletas de super-heróis, monstros e explosões. Dito isto, “Death Defying Acts” não é um filme espectacular, mas oferece ao espectador uma boa dose de escapismo romântico estilizado, perfeito para um encontro ou para um futuro aluguer numa noite calma.

“Death Defying Acts” passa-se em 1926 e conta a história do famoso mágico Harry Houdini - célebre escapologista e mestre em se livrar de cordas, correntes e todo o tipo de amarras em ambientes hostis como tanques de água, entre outros - eterno céptico das chamadas “manifestações sobrenaturais”, especialmente do que toca ao espiritismo e aos contactos com o Além, na sua busca de um médium que consiga pô-lo em contacto com a amada mãe, oferecendo um prémio de dez mil dólares a quem efectivamente realizar este feito debaixo de escrupulosa observação científica. Tal busca leva-o a Edimburgo, cidade natal de uma médium de feira, Mary McGarvie (Catherine Zeta-Jones) e da sua inventosa filha Benji (Saoirse Ronan). Mary e Benji têm um número de adivinhação que envolve Benji recolhendo informações discretamente entre os membros da audiência que Mary pode usar para fingir que contacta os seus entes amados já falecidos e assim lutam para assegurar uma pobre vivência, vivendo numa humilde casinha no cemitério até que descobrem do desafio e da chegada de Houdini e rapidamente Mary engendra o plano do costume, numa tentativa de descobrir quais as últimas palavras proferidas pela falecida mãe do mágico e assim ganhar os dez mil dólares prometidos. O carismático Houdini rapidamente se apaixona pela feroz Mary e esta, no final, terá de escolher entre seguir com o seu plano e conseguir o dinheiro que tanto precisa ou deixar-se levar por Houdini e abandonar a falcatrua.

Como já disse, “Death Defying Acts” não é um filme espectacular: não sendo material de Óscar nem filme que se discuta em profundidade, nem mesmo o que se poderia chamar de uma “biopic” (uma biografia cinematográfica), portanto analisar a profundidade dos personagens que se baseiam em pessoas reais é um tanto absurdo, conta porém com excelentes participações, de salientar a jovem Saoirse Ronan, que alguns poderão reconhecer do aclamado “Expiação”, como a matreira Benji, uma rapariga sonhadora e imaginativa, como é típico das meninas da sua idade, mas igualmente esperta e sagaz, que aprendeu a jogar com as cartas que a vida lhe dá para a melhor aproveitar – de facto, se a princípio nos deixamos levar pela noção que Benji é a ingénua fascinada por Houdini e a sua mãe Mary a prática e gélida artista do embuste, no fim vemos que Benji sabe o que a casa gasta e, em certas ocasiões, é ela que toma conta da mãe. A forma como ela encontra um aliado inesperado no ultra-protector manager de Houdini, Mr. Sugarman (Timothy Stall), um homem com o qual nada a pequena tem em comum e com quem muitas vezes colide, é bastante engraçada. A fotografia também é muito bonita, emprestando ao filme uma qualidade estética bastante agradável. O desenrolar da história… dado que nos é apresentado um fim de interpretação aberta, temos a liberdade para escolhermos nós o caminho que nos parece que melhor encaixa na narrativa, abrindo assim a oportunidade de agradar tanto aos espectadores mais realistas como aos mais esotéricos: mesmo assim, é minha opinião que a cineasta se deixou levar pelo romance entre Houdini e Mary e negligenciou, de certa forma, o ângulo do embuste que mãe e filha estavam a tentar perpetrar sobre o mágico. Gostaria de ter visto um maior foco no método de impostura de Mary, talvez uns quantos mais transes psíquicos fingidos, bastante mais pesquisa e inquérito dissimulado – como aquele feito na amostra do trabalho das McGarvies para o seu número de adivinhação, cedo no filme –, um maior desenvolvimento na relação de Houdini e Mary, em vez da rendição quase que súbita daquela que era, aparentemente, uma feroz e decidida intrujeira aos charmes do ilusionista. Graças ao que é sagrado que a pequena Benji tomou as coisas nas suas mãos e não transformou o filme num romance de cordel, se bem que a sua pequena participação não chegou para ajudar o filme a atingir o seu completo potencial.

Embora só tenha chegado este ano ao público português, “Death Defying Acts” anda por aí desde o ano passado e foi tido como “o próximo ‘Prestige’”, o famoso filme sobre ilusionismo no século XIX com Hugh Jackman que eu considerei “um prazer culposo”. Embora sejam os dois filmes de época (contudo de épocas diferentes) sobre o ilusionismo no mundo do espectáculo (embora “Death Defying Acts” o trate mais como pano de fundo enquanto “Prestige” se centra exactamente neste tema) não direi que “Death Defying Acts” seja tão atraente como “Prestige”, mesmo que o primeiro não tenha algumas das falhas estruturais do segundo e seja, em tudo, mais realista – talvez seja por isso que o filme passa tão despercebido, aparte da sua calendarização. Penso que seja por causa do teor essencialmente romântico do filme – sim, porque é, no fundo, uma história de amor – que, talvez por razões de gosto pessoal – para mim não batem um bom drama/thriller passado nos “roaring twenties”. No entanto, se tiverem uns trocos e vontade de ir ao cinema para ver algo que não o Hulk a rebentar carros no meio das ruas da cidade, “Death Defying Acts” deverá ser certamente uma opção viável.

sábado, 28 de junho de 2008

Crítica de cinema: "Embriagado de Amor" ("Punch Drunk Love" - 2002)

Uma visita ao clube de vídeo…
“Embriagado de Amor” (Punch-Drunk Love), de Paul Thomas Anderson (2002), com Adam Sandler, Emily Watson, Phillip Seymour Hoffman, Luis Guzmán


O mais recente e discutivelmente o mais conhecido dos filmes realizados pelo perturbadoramente talentoso Paul Thomas (às vezes, abreviado para P.T.) Anderson esteve nomeado para Melhor Filme na edição dos Óscares da Academia de 2007 e entitula-se “Haverá Sangue” (There Will Be Blood), ele próprio um título digno de aclamações, embora não para todos os temperamentos; no entanto, é da desventura de P.T. Anderson na comédia romântica, amplamente entendida, que gostaria de vos falar, no seu filme de 2003 “Embriagado de Amor”, sucessor do criticamente aclamado “Magnólia”. De certa forma, em traços gerais, “Haverá Sangue” e “Embriagado de Amor” não poderiam ser mais diferentes: o primeiro, uma fria e realística viagem à fealdade da natureza e da ganância humana com o pano de fundo da exploração petrolífera no oeste americano em inícios do século XIX, o segundo, a saga corriqueira de um homem em tudo comum, tímido, embora dado a repentinos ataques de raiva titânica, na sua luta no dia-a-dia para suceder nos negócios, não deixar que lhe passem a perna por cima, controlar a sua vida e, mais importante, encontrar o amor. No entanto, é surpreendente o quanto os dois filmes se aproximam: a visão do realizador está bem presente na construção de dois ambientes, de outra forma completamente distintos, mas demarcados pela mesma aridez compacta e, por vezes, algo opressora, embora em tudo comum e bem conhecida, que prende o espectador ao assento e o obriga a tomar atenção ao écran, mesmo que nada se passe nele por uns bons cinco minutos – o estilo pausado de narração da história pode até aborrecer alguns dos espectadores mais habituados à constante acção e às explosões em intervalos de dez minutos que outros filmes oferecem, mas faz tudo parte da atmosfera opressivamente realista característica deste realizador, que nos faz acreditar que estamos a presenciar os acontecimentos do filme com os nossos próprios olhos, na vida real, sem os artifícios e os floreados do cinema. Tudo isto, emparelhado com linhas de história em espiral que acabam por se completar a si mesmam, mesmo que passemos o filme a coçar a cabeça em confusão e com personagens tridimensionais, com qualidades e defeitos discerníveis, dadas a interacções e reacções naturais acaba por resultar na deliciosa, se bem que ligeiramente excêntrica trip que nos proporcionam os filmes de Anderson, a qual um toque de loucura aqui e ali em nada a corta, apenas sublinhando-a e tornando-a cada vez mais natural.


“Embriagado de Amor” é, sim, uma comédia romântica, na sua essência, protagonizada pelo conhecido cómico popular Adam Sandler; no entanto, como já disse, esta comédia romântica pouco tem a ver com a regular concepção do género e este filme em nada se compara com os restantes trabalhos de Sandler na sempre popular “comédia em série” da indústria de Hollywood. O filme segue Barry Egan, um homem cronicamente tímido subjugado pelas suas sete irmãs em todos os aspectos da sua vida, lutando contra a rotina que o vai afundando, gradualmente, numa depressão da qual ninguém se apercebe. O dia-a-dia cinzento de Barry, um homem que há muito se esqueceu que tinha sonhos, habituado a ser pisado por todos, a esconder as suas emoções e a não esperar nada da vida, é marcado por pontuais ataques de fúria violenta, a canalização de toda a frustração não ventilada propriamente durante a sua vida corrente. Para combater a solidão, Barry acaba por ligar para uma linha erótica procurando pura companhia… e acaba enrolado num esquema de chantagem e extorsão de dinheiro montado pelo personagem interpretado pelo monumental Phillip Seymour Hoffman. Entretanto, um estranho e curioso amor vai desabrochando entre Barry e uma misteriosa mulher, Lena, cuja presença apática será suficiente para fazer Barry descobrir novas forças que ele nunca soube que tinha.


O equivalente visual a assistir a “Embriagado de Amor”, para terem uma ideia em geral, é um borrão de luz e cores em permanente e lenta mutação no meio de um universo cinzento, plano, pouco atraente: é uma viagem alucinada à beleza simples e infantil que pode existir na mais hostil das situações: a vida corrente. Barry é um homem que perdeu a sua humanidade – como não a terão perdido todos os personagens do filme? – para se adaptar ao ambiente, para funcionar num mundo que não espera mais dele do que ser um personagem de fundo, uma mobília sem sonhos, sem necessidades, sem identidade, num mundo mecanizado e cruel onde a lei é comer ou ser comido – literalmente – e que a re-encontra no seio de um amor tão puro, tão natural, tão quase que infantil que poderia ter sido importado de um conto de fadas – e que, ao mesmo tempo, dá a sensação de ser um daqueles pequenos milagres que acontecem todos os dias, debaixo dos nossos narizes, entre estranhos, entre conhecidos, entre nós mesmos, aos quais raramente se dá atenção porque há que funcionar, há que produzir, há que viver, se a tal se pode chamar vida. A relação de Barry e Lena em “Embriagado de Amor” destaca-se do ambiente Andersoniano no qual foi imergida como se destaca o desenho de uma criança que usou todos os lápis da caixa colado à parede imunda de uma sala de chuto. Tudo isto encarreirado com uma tal leviandade e jovialidade – não presente, digamos, em “Haverá Sangue”, talvez a maior soante diferença entre os dois últimos filmes de P.T. Anderson – que não deixa de nos tocar, às quais não se sai indiferente.


É um filme que fica convosco. O seu simbolismo aplica-se nas vidas correntes de cada um de nós e acho que é esse o verdadeiro poder da mensagem de Anderson. Por muito patético e solitário que Barry Egan nos pareça, há um pequeno Barry Egan em cada um de nós, e isso leva-nos a querer fazer alguma coisa sobre o assunto.


Que mais posso eu dizer? As performances são do melhor. O destaque é, claro está, do protagonista, Adam Sandler, que prova neste filme estar completamente desaproveitado nas comediazitas básicas pelas quais fez nome em Hollywood. Sandler desempenha um papel assombrosamente relacionável com a dose certa de excentricidade para o tornar um personagem viciante – uma das melhores actuações da sua carreira. Emily Watson, o par romântico de Sandler, desempenha o seu papel com uma fleuma carismática que serve de perfeito exemplo em como os personagens deste filme falam mais alto pelos seus silêncios do que pelas suas falas – mas quando têm de falar, ó se falam. Claro está, não se pode esquecer Phillip Seymour Hoffman, um dos mais versáteis e talentosos actores desta geração e na minha lista de preferidos pessoais, no tipo de papel que desempenha melhor (sem ofensa ao extraordinário “Capote”) – o de sacana, se bem que considero que o tempo de antena que lhe foi dado mal lhe deu espaço para realmente brilhar. A estrela do filme é, então, e sem sombra de dúvidas, Sandler, que só tem a perder em voltar para o tipo de filmes que fazia anteriormente.


Quanto ao potencial comédico? Não se trata de comédia do género de Judd Apatow ou mesmo de Richard Curtis, de rir às gargalhadas. São apenas pequenas situações inseridas no espírito geral do filme que estimulam bons sentimentos cá dentro – o plano recorrente de Barry durante todo o filme de se aproveitar de uma promoção defeituosa promovida por uma linha de comida instantânea que lhe permitirá acumular milhões de milhas aéreas a custo mínimo, que o leva a comprar montanhas e montanhas de pudim, a bem conseguida fuga aos clichés do cinema comercial – quando Barry tenta usar as suas milhas para seguir Lena até ao Havai, assim, noutro tipo de filme, providenciando o espectador com a verdadeira razão, em termos de desenrolar da história, para a acumulação maníaca de pudim, as milhas só são descontáveis dentro de 6 a 8 semanas. Noutro filme Barry estaria de graça, irrealisticamente, dentro do avião em três tempos, mas tal como na vida real, as coisas não correm sempre bem (e, segundo a lei de Murphy, quanto mais potencial há de as coisas correrem mal, pior elas correm) e Barry é forçado a comprar o bilhete – e o brilhantismo dos protagonistas – a cena de insultos entre Sandler e Seymour Hoffman ao telefone tem que ser incluída nos clássicos da comédia rudimentarmente elaborada – que aliviam a pressão de “Embriagado de Amor” e o tornam o filme leve para o espectador de cinema pensante de eleição.


Concluindo, digo-vos o que vos digo acerca de “Haverá Sangue”: não é um filme para todos, muito menos para os inquietos por acção. Mas é fantástico, um balde de água fresca num dia quente de Verão e, portanto, vai-vos altamente recomendado.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Laranjas reunidas

Um clássico da política portuguesa são os congressos dos sociais-democratas. Se há imagem de marca da reunião magna dos laranjinhas são a imprevisibilidade e frases que ficaram na história do partido mas, também da democracia portuguesa.
Da surpresa, temos exemplos como a candidatura de Cavaco Silva a Presidente do Partido. Cavaco apenas entregou a lista de congressistas, na sua secção, minutos antes da hora limite para a sua entrega e foi ao congresso da Figueira da Foz fazer a rodagem do seu carro.
Frases aí temos várias. Luís Filipe Menezes considerou que se Durão ganhasse em 1995, o congresso seria graças a "sulistas, elitisas e liberais". Pedro Santana Lopes é, talvez, o autor que tem mais frases. Começa com "está escrito nas estrelas" quando questionado se iria ser Presidente do PSD, há muito tempo; continua com a sempre lembrada "Marcelo, agora nós!" e a última foi "Vou andar por aí!" quando se despediu do cargo que estava escrito nas estrelas que iria ocupar (as estrelas só não disseram por quanto tempo). Lembro-me também de um congressista do Alentejo que acordou (em plena madrugada) o congresso com a frase "as mulheres sociais-democratas são as mais bonitas do país, porque não têm celulite nem silicone". E há muitas mais. Se há coisa em que o PSD é rico, é em frases deste género.
O que esperar deste congresso? Não sei!
Manuela Ferreira Leite já mostrou que está de espingardas apontadas a Sócrates, Passos Coelho quer ocupar o seu espaço, mas ajuda-la-á e Santana Lopes andará ansioso para conseguir arranjar o seu "lugar ao sol".
Nestes congressos a frase "prognosticos só no fim do jogo" faz todo o sentido.

sábado, 21 de junho de 2008

Levantar a cabeça

O sonho acabou, é verdade, sentimo-nos trisets, revoltados, alguns até traidos ou desgostosos.
Porém é uma oportunidade de começar de novo, virar a página, não só para a seleção como para todos
O blog desde há uns dias para cá que também tem estado em baixo, como tal vamos retomar as nossas informaçoes desportivas o acompanhamento ao Euro, e as notícias generalistas bem como os videos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Elfen Lied


Manga criado em 2002, e transposto para a Tv em 2004, Elfen Lied é de longe em Anime convencional.
Criado por Lynn Okamoto, Elfen Lied mistura terror, violência, erotismo, nudez, acção, e sobretudo muita carnificina, num total de 14 episodios ( sendo um deles OVA).
A historia retrata a evolução do ser humano, que resulta no aparecimento de uma especie violenta e sem sentimentos, os chamados "Diclonius". Esta variante do ser-humano, nasce de pais normais (mas pelo menos um deles teve de estar esposto aos vectors de um diclónius) , e constitui uma ameaça para todos. Podem diferenciar-se de um humano normal, pelo facto de terem pequenos chifres. Estas crianças são isoladas á nascença e estudadas por cientistas que pretendem apurar a origem de tais aberrações.
A historia inicia-se quando uma das mais perfeitas e perigosas diclonius, Lucy, escapa das instalações, e são feitos todos os esforços para a eliminar, usando para isso forças do exercito, e outras diclónius ( que por alguma razão, são na maioria mulheres).
É um anime interessante, no entanto, não recomendado a todos.
Para quem gosta de anime e de ver braços e pernas a serem arrancados constantemente, força.
Opinião pessoal : choca um pouco ao inicio, mas é facil gostar de Elfen Lied, é espectacular.
É um anime pequeno, por isso vê-se bem*

quinta-feira, 19 de junho de 2008

1,2,3 vou ser goleado outra vez!

Pois é perdemos o jogo contra a nossa congénere alemã.
Sem retirar qualquer merito aos jogadores bávaros, perdemos porque o Ricardo é um frango fora da copeira
Mas vamos aos desempenhos individuais:
Ricardo, coitado julga que voa, mas ainda ninguem lhe disse que os frangos não têm asas, o guarda-redes foi directamente culpado nos 3 golos dos alemães.
P. Ferreira, há alguma coisa a comentar? Ah pois é! ele não fez um ataque de jeito fizeram melhor cobertura ao Schweinsteiger o Ronaldo e o Simão. Cruzamentos? zero para isso é preciso correr... (ele ´muito melor que o Caneira... nota-se!)
R. Carvalho, safou-se bem jogou como de costume
Pepe, defendeu bem, mas as ideias de atacar podiam ter custado caro...
Bosingwa, perfeito a atacar, se tivesse defendido um pouco melhor seria magnífico, contudo foi ele que levou ás costas a nossas equipa uma boa parte do tempo.
Petit, jogou razoavelmente bem, a velocidade já não e grande e os remates foram todos ao lado, mas a exibição foi claramente positiva.
Moutinho, lesionou-se à meia hora de jogo, mas o que jogou, jogou bem!
Deco, técnica, pulmão, força, o outro motor do nosso jogo a par de Bosingwa
Simão jogou bem, principalmente quando entrava pelo meio
Ronaldo, não jogou mal, mas certamente não foi o melhor jogador do mundo, por vezes foi um pouco egoísta.
Nuno Gomes, desde o tempo da Fiorentina que não gosto deste jogador, marcou um deixou escapar muitos.
R. Meireles, remates todos para fora, fraco a defender nada de especial a atacar.
Nani, entrou bem assistiu o Postiga
Postiga, entrou viu e marcou.

Scolari, reitero a minha opinião, Portugal é o elo mais fraco no trinângulo amoroso que é Portugal-Scolari-Chelsea.

Arbitro: enganou-se era para arbitrar um jogo de rugby...

Portugal VS Alemanha euro girls... 3